O…, A…

Se você é tradutor de documentários e outros programas de televisão, vai aqui uma dica grátis: cuidado com o uso de artigo definido (o, a, os, as) com nomes próprios.
Nem todas as línguas têm artigo; das que têm artigo, nem todas permitem o uso dele com nomes próprios; e das que permitem tal uso – como o português -, nem todos os dialetos ou falares o apresentam. Basta conversar com falantes de português de outras regiões para verificar isso.
Refiro-me à língua coloquial, é claro. Já em nossa língua culta o uso do artigo com nomes próprios é muito restrito, cabível apenas quando necessário pelo contexto (em representação de linguagem coloquial, por exemplo).
É chato e irritante assistir a um jornal ou documentário na TV e ouvir, a todo momento, coisas como “O Putin”, “A Thatcher”, “O Gandhi”, “O Einstein”, “O Alexandre Magno”, “A Joana D’Arc”, “O Hiroito”, “A Merkel”, “O Simão Pedro”, “O Gengis Khan”…
Sem falar no uso de artigo com nomes de santos católicos: “O São Pedro”, “O Santo Antônio”, “A Santa Maria”…
A lista não tem fim e abrange antigos e contemporâneos, de lá e de cá, de ambos os gêneros.
E parece que só Jesus escapa… mas talvez por pouco tempo. 🤔

#Coclear…

Revejo um episódio antigo de uma série policial: o crime envolve membros da comunidade surda de Nova Iorque. Um dos suspeitos é cirurgião que faz implantes cocleares.
Até aí, nada fora do comum.
O problema está na dublagem: a palavra COCLEAR é pronunciada [ko’klir] ou algo parecido, como se fosse termo inglês; explicando melhor: as duas sílabas finais são pronunciadas como a palavra inglesa CLEAR.
Por quê? Não sei e não consigo entender isso.
Mas uma coisa é certa: há tempos estamos formando profissionais da linguagem, em várias profissões, que desconhecem o vocabulário da própria língua.

Fonte da imagem: http://www.direitodeouvir.com.br

De anglica lingua

Almoço indigesto: dois caras ao meu lado, tagarelando em inglês. Um era brasileiro, pois falou em português à moça que lhe anotou o pedido.
Comi o mais rápido possível para sair dali. Se tivesse levado fones de ouvido…
Nada tenho contra a língua inglesa ou contra seus falantes. (É… Contra alguns, em particular, tenho sim.) Como língua de canto, o inglês parece feito sob medida, talvez pela grande quantidade de monossílabos (o que também lhe vale o epíteto “língua dos cavalos”, pela fala “trotada” – não fui eu a criar isto, foi um indiano de Goa); mas, como língua de conversação, é-me intragável, insuportável, insustentável… Só assisto a filmes legendados se não há dublagem, ainda que ruim.
Por sorte nunca precisei emigrar (ou “ganhar o pão em língua estrangeira”, no dizer de Hélder Macedo) – e, se o fizesse, não seria para um país anglófono; também deixei de lado toda e qualquer veleidade de seguir carreira acadêmica: sem domínio do inglês, isso é impossível hoje, lamentavelmente. ☹️
Para meu cosmopolitismo particular, o esperanto 💚 já me basta e é suficiente – aliás, é todo um mundo e uma cultura, de que descubro um pouco todo dia.