Foguete indiano

(Foto: WordPress.)

Na madrugada de 29 de maio de 2023 assisti ao lançamento de um foguete da Índia. Os indianos usaram-no para posicionar em órbita um satélite do sistema de navegação que estão construindo. Eles e os chineses estão preparando-se para não depender do GPS, que é dos Estados Unidos. Já por aqui…
Aqui já perdemos o foguete da história, assim como deixamos passar o metrô, o trem, o bonde, a carruagem e até o paquete. Sabotamos nossa indústria automotiva (que há muito é toda gringa), não conseguimos fabricar um chipe, e nossos computadores, telefones e até cafeteiras, aspiradores de pó e liquidificadores são feitos na China e aqui postos nas caixas para venda no varejo…
Sem falar em nossa escola, na qual os alunos passam 12 anos e da qual muitos saem sem entender o que leem nem escrever direito na língua que falam, além de deixar-se enredar na inflação do terraplanismo.
Mas está tudo joia! O Brasil continua craque em destruir seu meio ambiente, desperdiçar seus recursos naturais e esmagar o talento de seu povo.
Não criemos pânico. Para que investir em programas espaciais dispendiosos, se a China e a Índia, parceironas dos BRICS, podem lançar os nossos satélites?
Mas não daqui, pois nossa base de Alcântara agora é dos irmãos do North, que sabem usá-la melhor do que nós. Há mais de 20 anos deixamos que explodisse, matando toda a nossa equipe de pesquisadores de espaçonáutica. Há quem diga que foi sabotagem dos gringos malditos, mas isso já é conspiracionismo de mais, não acham?
Ao fim e ao cabo, não para de crescer o lucro da exportação de soja, minério e “proteína”. Ao vencedor, as commodities!

P.S.: Talvez apareça alguém aqui me acusando de ter complexo de vira-latas. Qual! Vão tomar banho na soda! Esse papo de vira-latismo é desculpa de quem não aceita críticas ao país, pois acha que o Brasil é a oitava maravilha e vivemos no melhor dos mundos possíveis. Amar o Brasil é também reconhecer seus problemas.

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Negacionismo científico?

Olhe, veja bem… 🤔😱😂🤣😂
Agora que o novo coronavírus já é bem conhecido, há várias vacinas disponíveis e a Covid-19 está sob controle… podemos menosprezar, criticar, xingar, detonar, atacar à vontade a pérfida ciência “ocidental” (ou “dos brancos”) e os cientistas.
Afinal, esses cientistas arrogantes têm a pachorra de usar o método científico para dizer o que é e o que não é ciência.
Basta! A pandemia acabou-se, e com ela o reinado dos cientistas e divulgadores da ciência. As coisas já vão voltando ao normal.
Acaba de ser regulamentada a ozonioterapia, e o povo já começa a cancelar cientistas que ousam criticar práticas pseudocientíficas e “tradicionais”.
Como se atrevem eles a dizer que é ineficaz a dieta de corte de carne, queima de gordura e ingestão de líquidos (ou seja, churrasco com cerveja) para emagrecimento?
O negacionismo está liberado, pois… mas só até a próxima pandemia. Quando ela vier, veremos o que fazer.

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Desuniversidade

Universidade brasileira é acerbamente criticada (onde? nas redes sociais, é claro!) por proposta de criar centro de pesquisa em outra região do país.
Dizem seus detratores que a instituição deveria pesquisar apenas em seu estado de origem. Ah, tá.
Enquanto isso, a mesma universidade assina acordo com centro de pesquisa de um país africano para colaboração na formação de docentes. E o povo desse país parece não ver problema algum em trabalhar com instituições de outras regiões ou países.
Assim caminha a brasilidade.

De medicina sinica

(Foto: Joel Gundi em Pexels.com.)

Matéria na Folha de S. Paulo de hoje, a respeito de pesquisa sobre o DNA do jumento ou asno (Equus africanos asinus), também conhecido como burro, jegue ou jerico, diz também que crescem a criação e o abate de jumentos, de forma legal ou não, para fornecimento de couro, que é usado para fazer uma gelatina usada na medicina tradicional chinesa.
Hummmm…
Um dos motivos para a caça aos rinocerontes, causa da extinção de algumas de suas espécies e ameaça constante às sobreviventes, é a procura por seus chifres, usados na medicina tradicional chinesa.
A saiga (Saiga tatarica), uma espécie de antílope da Ásia Central, teve sua população muito reduzida nas últimas décadas devido à procura por seus chifres, usados na… Adivinharam: medicina tradicional chinesa!
Já que tanto se critica a medicina ocidental por sua suposta falta de humanidade; já que tanto se atacam os testes feitos com animais; já que tanta gente vive dizendo que é hora de falar disso, falar daquilo, falar daquilo outro… creio que devemos começar a falar também dos impactos ecológicos da medicina tradicional chinesa…
Ou será que a liberdade de expressão e o direito à crítica, tão louvados no mundo ocidental, servem apenas para atacar a nós mesmos, como se fôssemos a causa dos males do mundo, enquanto toda e qualquer prática “não ocidental” é tida como imune a críticas?

https://www1.folha.uol.com.br/ciencia/2023/03/finalmente-a-arvore-genealogica-do-jumento.shtml

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Alienígenas do Passado

Na primeira vez que vi, há vários anos, no canal History, um episódio desse programa, achei-o uma piada! Cri então que ele não teria vida longa, pois era fantasioso demais, principalmente por estar sendo exibido numa TV voltada à história. Mas o que o canal History menos tem é história.
Enganei-me redondamente, pois. O programa já é exibido há mais de dez anos, e parece que não deixará de ser produzido tão cedo. Onde conseguem material para tanta baboseira?
Para quem não conhece, trata-se de um programa que explora as possíveis influências de extraterrestres na história humana. Segundo os “teóricos dos antigos astronautas”, os ETs estariam controlando os humanos desde tempos imemoriais, conduzindo a história humana a seu bel-prazer, escolhendo ora este, ora aquele povo, fornecendo-lhes conhecimento, tecnologia, proteção. Pirâmides egípcias e maias, zigurates caldeus, muralha da China, moais da Ilha de Páscoa, Machu Picchu, Stonehenge, Atlântida, os gigantes citados na Bíblia, pólvora, escrita, rádio, energia nuclear, DVD, viagra… Tudo teria sido feito com tecnologia dos ETs ou sob sua influência, direção, sugestão.
Os deuses e heróis nada mais seriam que alienígenas vistos em seus trajes espaciais e suas naves reluzentes; o patriarca Enoque e o profeta Elias teriam sido levados pelos ETs em suas naves (no caso de Elias, um carro de fogo, que partiu num redemoinho).
Aliás, os hebreus parecem ter gozado da proteção de ETs: teriam saído do Egito com a ajuda deles, responsáveis pelos milagres de Moisés na corte do faraó e pela coluna de fogo que protegeu os filhos de Israel do exército do faraó e pela abertura do mar para sua passagem; até o maná que os hebreus comeram durante os 40 anos no deserto teria sido produzido por uma máquina alienígena, cujo projeto parece ter-se conservado e chegado às mãos dos “especialistas”… 🤔
O programa consiste nisto, pois: hipóteses mirabolantes sobre a possível influência de ETs na história humana. É apresentado por Giorgio Tsoukalos e sua inconfundível cabeleira, que recebem diversos autores de livros sobre os antigos astronautas e assuntos relacionados, os quais comentam o tema do episódio. O principal deles, o mais cultuado e celebrado é o suíço Erich von Däniken, que na década de 1960 deu o pontapé inicial a essa coisa toda com “Eram os deuses astronautas?”. Mas Däniken, condenado e preso por fraude, além de acusado de plágio, parece ter-se “inspirado” no francês Robert Charroux (1909-1978), que publicou vários livros sobre supostas visitas de alienígenas à Terra.
Engana-se, porém, quem pensa tratar-se de um conjunto de hipóteses racistas com o fito de diminuir, menosprezar as conquistas tecnológicas de povos não europeus, pois nem mesmo a Europa teria escapado da influência dos antigos astronautas.
Exemplos? Segundo os defensores dessas hipóteses, a Armada Invencível espanhola, que em 1588 partiu para invadir a Inglaterra, teria sido desbaratada e destruída com a ajuda dos ETs, que teriam protegido os ingleses, escolhidos como os novos representantes dos interesses dos alienígenas na Terra. E a Alemanha nazista teria tido acesso a tecnologia alienígena para armas e foguetes, mas parece que os alemães não souberam aproveitar o presente, pois estariam mais interessados em exterminar gente que eles consideravam inferior. Resultado: os ETs mudaram de lado e escolheram os EUA, covencedores da II Guerra Mundial.
O resto da história todos conhecemos. Sabemos quem manda no mundo. Mas quem os controla? 😱
A mim, “Alienígenas do Passado” sempre proporcionou muito boas risadas. A criatividade dos teóricos dos antigos astronautas parece não ter fim.
É sempre uma boa pedida quando se quer desopilar o fígado. 😂🤣😂🤣😂

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O coronavírus de hoje e o mundo de amanhã [Byung-Chul Han]

https://brasil.elpais.com/ideas/2020-03-22/o-coronavirus-de-hoje-e-o-mundo-de-amanha-segundo-o-filosofo-byung-chul-han.html

#Coronavirus

Rebimboca da parafuseta

Imaginem que vocês precisam fazer uma pesquisa sobre um dispositivo chamado rebimboca da parafuseta. Vocês começam buscando informações na base de dados de uma instituição de fomento, ou de uma universidade… E é claro que vocês encontrarão algo lá.
O apetrecho é bem conhecido, pesquisas sobre esse dispositivo não são novas, não são inéditas; já se pesquisa sobre o assunto há algum tempo; por isso vocês, com facilidade, encontram bastante coisa. Mas, em certo repositório um tanto obscuro, topam com uma pesquisa mais ou menos recente sobre “o rebimboka do parafuzeta”…
!!!
Isso mesmo: “o rebimboka do parafuzeta”!
E pensam: “Deve ser erro de digitação da palavra-chave no banco de dados do repositório…” Mas não é só isso! O termo “rebimboka do parafuzeta” aparece já no título do trabalho acadêmico: “História, descrição e funcionamento do rebimboka do parafuzeta”.
“Um descuido com o título”, pensam vocês; “foi a pressa de cumprir o prazo de entrega”. Talvez.
Mas, ao ler o trabalho, vocês percebem que o termo “rebimboka do parafuzeta” não está só no título, pois ele é citado cerca de 150 vezes no trabalho, sempre com grafia errada e erro na flexão de gênero.
Não pode ser, não é possível! Mas é…
Não se trata de uma nova ortografia ou gramática vanguardista: a análise do trabalho demonstra que seu autor não sabe como se escreve o termo “rebimboca da parafuseta” nem sabe seu gênero gramatical: tanto “rebimboca” quanto “parafuseta” são palavras de gênero gramatical feminino.
E o trabalho passou por duas bancas, uma de qualificação e outra de defesa, tendo sido aprovado em ambas. Nenhum membro das bancas viu isso? E o orientador? Também não viu esse absurdo? Como deixaram passar uma coisa dessas?
Espero que pelo menos o histórico, a descrição e o funcionamento da rebimboca da parafuseta estejam corretos no trabalho, pois no que diz respeito à gramática e à ortografia…