A alegria do gol

(Foto: WordPress.)

Pelé comemorava seus muitos gols com o peculiar soco no ar, que se tornou um registro seu inconfundível e imitado por outros goleadores. Mas ele não foi o único a deixar sua marca ao comemorar um tento.
Nos anos 1970, o atacante Caio Cambalhota, irmão dos também craques Luisinho Tombo e César Maluco, ao fazer um gol, comemorava dando cambalhotas. Fez sucesso e foi campeão no Botafogo, no Flamengo e no América do RJ.
Na mesma época, outro atacante ficou famoso ao comemorar seus gols: Mickey, herói do Fluminense na conquista da Taça de Prata de 1970, comemorava levantando os braços e fazendo V com os dedos, o que o deixou conhecido como um homem de “Paz e Amor”.
Josimar, lateral do Botafogo, jogando pelo Brasil marcou dois golaços na Copa do Mundo de 1986 (contra Irlanda do Norte e Polônia) e contagiou a torcida ao comemorar sambando e esbanjando alegria, o que inspirou a criação da revista esportiva norueguesa “Josimar Fotball”.
Hoje leio que o jogador Nathan Cachorrão, do Fluminense do Piauí, faz jus ao nome: comemora seus gols imitando um cão a urinar na bandeirinha de escanteio…
Aliás, Cachorrão parece estar querendo inscrever seu nome no rol da história dos catimbeiros e causadores de confusão dentro de campo, como os célebres André Catimba e Almir Pernambucaninho: recentemente, Nathan lambeu o nariz de um adversário e recebeu um soco dele, o que causou a expulsão do lambido.
Pois é… Quem disse que o futebol não evolui? Suas peculiaridades e dinamismo, sua capacidade de revelar as facetas do ser humano explicam por que é o esporte mais popular do mundo.

https://www.uol.com.br/esporte/futebol/ultimas-noticias/2023/02/10/ex-inter-que-lambeu-nariz-de-rival-comemora-gols-imitando-um-cao-urinando.htm

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Reconquista futebolística

(Imagem: Wikipédia.)

Numa realidade alternativa*, a reconquista cristã da península Ibérica jamais ocorreu.
Após a invasão muçulmana de 711 da Era Comum**, comandada por Tárique, cujas tropas atravessaram as Colunas de Hércules e mudaram o curso da história, diversos impérios muçulmanos, sediados na própria península ou fora dela, alternaram-se no domínio da Ibéria e de outras partes da Europa até meados do século XX (fins do século XIII da Hégira), quando se iniciou o processo de descolonização de Al-Ândalus e outras terras que, depois de mais de 12 séculos de colonização e domínio islâmico, voltaram a ser governadas pelos próprios infiéis, para desgosto dos crentes.
Surgiram diversas monarquias e repúblicas, cujas populações, de forma espantosa, tinham permanecido predominante e culturalmente cristãs e falantes de línguas românicas, celtas, germânicas ou bascas: Galiza, Aragão, Algarve, Leão, Castela, Astúrias, Occitânia, Aquitânia, Vascônia, Francônia, Barcelônia, Provença…
A coragem e determinação desses povos na resistência política e pela manutenção de sua cultura, em face de dominadores tão poderosos e sofisticados, é até hoje exemplar e inspiradora para muita gente, não somente no campo político.
Na Copa do Mundo de 2022, realizada na Irlanda (a primeira num país cristão), a sensação foi a seleção do Algarve, que eliminou as seleções do bicampeão mundial Egito e do Marrocos, três vezes campeão mundial.
Metade dos jogadores do Algarve naquele campeonato tinha nascido fora do país: eram filhos de imigrantes algarvianos estabelecidos em ricas ex-metrópoles — na Otomânia, no Irã, no Egito, na Grã-Mugália ou no Magrebe — que escolheram defender a seleção do país de seus pais, para alegria e delírio da galera decolonial.
“Viva a alegre seleção do Algarve, civilização ibérica invadida pelo Magrebe, que derrotou Egito e Marrocos!”; “O castigo para os árabe-islâmicos tarda mas não falha!”; “Alá é grande, mas Deus é algarbiense!”; “Al-Maraduna*** virou Al-Mara-Nada!” — estes e outros ditos de triunfo semelhantes circularam muito por aqueles dias de euforia, quando o selecionado de um humilde e pequeno país ibérico humilhou as potências políticas e econômicas nos campos da Irlanda, redimindo e alegrando os povos oprimidos e os trabalhadores imigrantes — pelo menos enquanto durou a cerveja****…

* Isto é um exercício livre de ficção alternativa contrafactual. É tudo invenção. Entrem no espírito da coisa, por favor. Não me levem a sério. 😉
** Algumas pessoas parecem achar que antes de 711 não existiam populações humanas na península Ibérica. Só isso explica certas besteiras que se leem por aí na rede. Ou é ignorância ou má-fé.
*** O egípcio Al-Maraduna, nessa realidade alternativa, foi um dos maiores jogadores do mundo, tendo capitaneado sua seleção na conquista do bicampeonato mundial em 1986, na copa realizada em Sumatra.
**** Contrariando decisão da FIFA, presidida por um ex-árbitro de Timbuctu, o rei irlandês João IV O’Brien liberou a cerveja nos estádios.

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Péssima arbitragem

(Imagem: WordPress.)

Numa realidade alternativa, a China não foi “boazinha”, como se diz por aqui, e decidiu expandir-se: conquistou grande parte do mundo e espalhou por todos os continentes sua língua, cultura e instituições, entre elas a prática do futebol, de cuja invenção os chineses se gabam. (Há 2 mil anos, um esporte semelhante ao futebol era parte do treinamento militar das tropas imperiais.)
Mas logo os chineses perderam a primazia no esporte que criaram, pois só conquistaram a Copa do Mundo uma vez, em 1966, quando a sediaram.
Na final, ocorrida em Pequim, a China venceu o Japão por 3×2, e a imperatriz chinesa entregou a taça ao capitão da equipe imperial, Wang Lipei, que a recebeu com a empáfia de costume.
Até hoje, porém, nessa outra realidade, os japoneses reclamam da péssima atuação do trio de arbitragem cambojano, pois alegam que o terceiro gol chinês teria sido marcado em impedimento, além de terem sido anulados dois gols legítimos do artilheiro japonês Akira Yamashita.
Alternam-se as realidades, dando-se liberdade à imaginação, mas o futebol permanece o mesmo. Ou não?

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Neymar e o Catar

No UOL, um articulista sugere que críticas a Neymar são fruto de racismo e classismo: seus críticos parecem não aceitar que um negro de origem humilde se torne rico e famoso, uma celebridade conhecida em todo o mundo, um cara invejado por muitos homens e desejado por todas as mulheres.
Já na Folha de São Paulo, outro articulista diz que as críticas ao Catar pela organização da Copa do Mundo de 2022 são “islamofobia deslavada” de ocidentais que querem impor a países muçulmanos sua visão de mundo sobre direitos trabalhistas, direitos das mulheres e dos LGBTs etc.
Pois é, meus amigos… Se vocês não são negros oriundos de comunidade pobre, vocês não podem criticar Neymar, pois estão apenas demonstrando seu racismo e classismo. Da mesma forma, quem não é catariano nem muçulmano não pode nem pensar em apontar algo negativo naquele maravilhoso e rico pequeno paraíso islâmico do Golfo Pérsico.
Se a língua ou os dedinhos coçarem para dizer algo negativo sobre o craque e o país citados, aguentem o prurido!
Eu, como vocês sabem, não sou catariano nem islamita; também não sou negro nem pessoa de origem pobre. Sou europeu e branco, bem branco — aliás, branquíssimo —, legítimo louro alto tipo nórdico (alô, primo Caco!); sou cristão de quatro costados e católico praticante, por mercê de Deus; nunca trabalhei e tenho enorme fortuna resultante de várias gerações de acumulação de capital parasitário… e amo Neymar e o Catar desde criancinha! 😉

https://www.uol.com.br/esporte/futebol/copa-do-mundo/2022/11/29/voce-tem-certeza-que-as-criticas-a-neymar-nao-sao-racistas-e-classistas.amp.htm

https://www1.folha.uol.com.br/opiniao/2022/11/islamofobia-deslavada-contra-o-qatar.shtml

Campeonato Paulista de 1988

17 de julho: o já desclassificado Palmeiras enfrenta o São Paulo, o então campeão, que precisa apenas de um empate para ir a mais uma final seguida, desta vez contra o Guarani. O Corinthians acompanha o Choque Rei e reza por um milagre: para enfrentar o Guarani, além de vencer o Santos (o que faz no mesmo dia por 2×0), precisa de que o Palmeiras vença o São Paulo. Os corintianos torcem por seu arquirrival contra o Tricolor do Morumbi!
A pressão sobre o Palmeiras é enorme: além das chacotas por amargar 12 anos sem títulos, os palmeirenses ainda têm de aturar a denúncia de que pretendem deixar o São Paulo vencer para evitar que o Corinthians seja finalista. Parte da torcida deseja mesmo isso: “Entrega o jogo! Entrega o jogo!” — o grito ecoa no estádio do Morumbi…
Mas a história é outra: com gol de Gerson Caçapa, o Palmeiras vence o São Paulo, o que põe o Corinthians na final contra o Guarani.
Parte da torcida odiou isso. A manchete de capa da revista Placar dizia: PORCORINTHIANS! Torcedores manifestaram-se na porta do Parque Antártica: “Filial, filial, filial da Marginal!” — era o que gritavam.
E o resto da história? Bem… Após empate por 1×1 no Morumbi — o gol bugrino foi de Neto, numa antológica bicicleta —, o Corinthians venceu o Guarani na finalíssima no Brinco de Ouro da Princesa, em Campinas, com gol de Viola, e conquistou seu vigésimo título.
Um figurão da diretoria do Corinthians, após o primeiro jogo da final, fizera pouco caso do gol de Neto: “Não precisamos de gol de bicicleta!” Bata-se na boca! Suprema ironia: dois anos depois, Neto se consagrava no Alvinegro da Marginal.
Passados mais de 30 anos, não sei se o Corinthians teve a oportunidade de retribuir o “favor” de seu maior rival (a de hoje ele perdeu…); mas muitos palmeirenses jamais perdoaram a vitória do Verdão naquele Choque Rei de 17 de julho de 1988.

Santarém, Pará, 3 de novembro de 2019.