Café com leite?

(Foto: Internet.)

Faz algum tempo que tenho reduzido meu consumo de leite, e isto se dá mais pelas denúncias de adulteração do leite por seus produtores do que por outros motivos. Às vezes ainda ponho um pouco de leite no café (adoro café bem forte, puro ou com leite), mas passei a fazer isto apenas em minha casa: depois do que se tem visto nos últimos tempos, não quero ser tomado por supremacista “branKKKo” ao ser visto bebendo leite em público.
Mas agora a coisa se complicou: estão dizendo por aí que beber café também está sendo considerado um ato racista, pois o café foi “criado por negros para negros” (o café é originário da Etiópia), e depois os “branKKKos se apropriaram dele e o inseriram na lógica do capitalismo”.
Parece que alguém lançou nos States essa ideia de considerar racista o beber café, e rapidinho ela chegou aqui. Não é de espantar ninguém: nossa submissão aos ianques e nossa imitação de tudo o que rola na Gringolândia são totais.
Propõe-se até boicote ao café e às cafeterias. É sério isso ou se trata de mais uma piada para conseguir “biscoitos” na Internet?
Pensando bem, um branco chamado Lineu deu ao café um nome equivocado: “Coffea arabica”. Não deveria ser “Coffea ethiopica”? 🤔
Se querem achar em quem pôr a culpa disso, culpem os árabes, que levaram o café da Etiópia para difundi-lo em seu império, e depois os turcos, que o espalharam em seus domínios e mais além.
Conta-se que, quando os turcos tentaram conquistar Viena, algumas sacas de café caíram em poder dos defensores da cidade, que o experimentaram e adoraram! Se os turcos não tivessem tentado conquistar a Europa Central… os europeus e suas ex-colônias talvez ainda estivessem bebendo vinho com água quente de manhã. 😋
Acho que vou parar de beber café também. Não quero ser tido por racista. Há até quem me considere um autêntico “louro alto tipo nórdico” (?!), mas ser considerado supremacista “branKKKo” já é demais… E só por causa de um cafezinho!
E, antes que alguém toque no assunto, informo que já faz mais de um ano que não tomo açaí, pois não quero ser acusado de apropriação gastronômica da principal iguaria amazônica.
Sigam meu conselho: açaí só para os paraenses!

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Pós-metáfora

O fato é este: já vivemos em plena era da pós-metáfora, em que tudo deve ser interpretado literalmente, mesmo quando se trata de textos escritos há muito tempo e com intenções evidentemente poéticas e alegóricas.
Lamentável!
Qualquer alusão à cor branca pode ser interpretada como racismo, mesmo que se refira à neve ou a outra coisa naturalmente branca; a doçura de um beijo pode ser ofensiva aos diabéticos ou aos que combatem o consumo de açúcar; e Geraldo Vandré, quando compôs “Caminhando e cantando…”, não pensou nos cadeirantes e noutros que não podem caminhar por falta de pernas?
Acho que estamos problematizando muito e pensando pouco. Há muita coisa para fazer, e não resolveremos nossos problemas com problematizações tolas e estéreis que desviam o foco das necessidades mais prementes de nosso povo.

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Neymar e o Catar

No UOL, um articulista sugere que críticas a Neymar são fruto de racismo e classismo: seus críticos parecem não aceitar que um negro de origem humilde se torne rico e famoso, uma celebridade conhecida em todo o mundo, um cara invejado por muitos homens e desejado por todas as mulheres.
Já na Folha de São Paulo, outro articulista diz que as críticas ao Catar pela organização da Copa do Mundo de 2022 são “islamofobia deslavada” de ocidentais que querem impor a países muçulmanos sua visão de mundo sobre direitos trabalhistas, direitos das mulheres e dos LGBTs etc.
Pois é, meus amigos… Se vocês não são negros oriundos de comunidade pobre, vocês não podem criticar Neymar, pois estão apenas demonstrando seu racismo e classismo. Da mesma forma, quem não é catariano nem muçulmano não pode nem pensar em apontar algo negativo naquele maravilhoso e rico pequeno paraíso islâmico do Golfo Pérsico.
Se a língua ou os dedinhos coçarem para dizer algo negativo sobre o craque e o país citados, aguentem o prurido!
Eu, como vocês sabem, não sou catariano nem islamita; também não sou negro nem pessoa de origem pobre. Sou europeu e branco, bem branco — aliás, branquíssimo —, legítimo louro alto tipo nórdico (alô, primo Caco!); sou cristão de quatro costados e católico praticante, por mercê de Deus; nunca trabalhei e tenho enorme fortuna resultante de várias gerações de acumulação de capital parasitário… e amo Neymar e o Catar desde criancinha! 😉

https://www.uol.com.br/esporte/futebol/copa-do-mundo/2022/11/29/voce-tem-certeza-que-as-criticas-a-neymar-nao-sao-racistas-e-classistas.amp.htm

https://www1.folha.uol.com.br/opiniao/2022/11/islamofobia-deslavada-contra-o-qatar.shtml

Racismo, passado e futuro [Hélio Schwartsman]

Hélio Schwartsman: “Racismo, passado e futuro” – Folha de S. Paulo, 12/6/2020 (https://folha.com/6vqhizgf)

Hélio Schwartsman: “Melhor do que derrubar estátuas é reuni-las num parque dos enjeitados” – Folha de S. Paulo, 12/6/2020 (https://folha.com/rtl1op5f)