Vida e arte

Numa boate cheia de gente, um DJ acende fogos de artifício no palco; faíscas se espalham, o fogo queima as cortinas e se espalha para as paredes e o teto, queimando tudo.

Pânico. Gritaria. Correria. Apenas uma saída estava livre, as outras estavam trancadas por ordem do dono; não havia extintores de incêndio, o revestimento antifogo estava irregular. Várias pessoas morrem asfixiadas, queimadas ou pisoteadas.

A história parece familiar? E é, mas não estou falando do incêndio da boate Kiss, ocorrido em 2013 em Santa Maria, RS.

Trata-se do enredo do episódio 22 da temporada 1 de CSI Miami, exibido em 2003, dez anos antes da tragédia da Kiss. Tirando-se algumas diferenças, é quase a mesma história de Santa Maria, e com certeza deve ter sido inspirada em outro incêndio parecido.

Vida e arte imitam uma à outra, inclusive nas tragédias, infelizmente.

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Pelo amor da Deusa!

O prefeito de Irajá da Leblona, Papai Duarte, viralizou nas redes sociais ao reagir à postagem também viral de uma aluna sobre o material escolar deste ano.

Papai Duarte, que é torcedor fanático do CRI (Clube de Regatas Irajaense), agradeceu à aluna e lhe enviou saudações regatianas.

A pergunta que faço: por que diabos um prefeito precisa fazer referência a time de futebol numa comunicação? Será que todos os pirajaenses são regatianos? E mesmo que o sejam, cabe tal alusão na manifestação de um prefeito ou de qualquer político?

Só faltou dizer: “Que a Mãe Asserá a abençoe!”

Todos sabem que o culto de Asserá (deusa também conhecida como Astarte, Astarteia ou Asterote) é a religião que mais cresce no Brasil. Segundo os assessores de sua campanha de reeleição, Papai ganhou alguns votos com seu comunicado por causa da grande torcida regatiana, a segunda maior do estado, mas poderia ter ganho outros mais se tivesse citado a Deusa.

Ele promete que não cometerá esse erro de novo. Vale tudo para continuar ocupando o melhor emprego do Brasil — segundo palavras do próprio Papai Duarte…

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Arrebatamento

(Foto: WordPress.)

O melhor negócio no Brasil de hoje é abrir uma igreja, pois a isenção de tributos para as instituições religiosas só se amplia. Chegará o momento em que trabalharemos apenas para cobrir o rombo do orçamento nacional causado pela isenção de impostos das igrejas.
Isto parece inevitável.
E espero sinceramente que ocorra mesmo esse tal arrebatamento que os evangélicos estão esperando.
Será muito triste se, depois de uma vida inteira de oração, obedecendo ao pastor, lendo (somente) a Bíblia ( 🤔 ), privando-se de prazeres e pagando dízimo, os fiéis acabarem indo parar no mesmo lugar destinado às prostitutas, maconheiros, cachaceiros, LGBTs, jogadores de carteado e dominó, macumbeiros, leitores de Sade, fãs do Chico Buarque, padres, comunistas, professores, pornófilos, políticos, sibaritas, edonistas e outras figuras que os crentes julgam estar condenadas ao inferno…
Quem viver, verá.

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Barba, cabelo e bigode

(Créditos da imagem: Robbie Coltrane no papel de Hagrid, Warner Bros Pictures/Harry Potter.)

Certo biólogo diz que jamais cortará os cabelos nem tirará a barba porque “cabelos cortados e barba raspada deixam o homem com cara de coxinha”. Já outra intelectual, esta das humanidades, alude de forma jocosa a evento oficial do atual governo com a presença de “mauricinhos com cabelo penteado sem um fio fora do lugar”.

Hmmmm…

Parece que é assim que alguns pensam que convencerão os adversários políticos para diminuir a polarização que, dizem eles, assola o País. Vejam como vai dando certo…

Sempre me considerei de centro-esquerda. Mas, a julgar pela avaliação que se faz de gente com minha aparência, creio que os fenotipistas políticos me poriam ao lado dos camisas negras ou verdes dos anos 1930. Argh!

(E o horroroso Plínio Salgado tinha até bigode…)

Lembro-me de ter visto um documentário em que um dos entrevistados, italiano adepto da contracultura dos anos 1960, conta sua viagem com alguns “compagnons de route” à Albânia para conhecer o socialismo real. Assim que passaram pelo posto de guarda, os admiradores do regime de Enver Hoxha foram obrigados a cortar os cabelos e raspar a barba, pois, conforme a ideologia em vigor na Albânia de então, cabelos compridos e barba eram coisa de burguês.

E os pobres coitados achando que seus cabelos longos e ideias curtas estremeciam as bases do capitalismo!

Enquanto alguns pensam que podem mudar o mundo deixando a barba crescer e aposentando o pente, a extrema direita se recupera e afia a navalha para fazer serviço completo.

Deixemos de perder tempo com barba, cabelo e bigode e cuidemos de proteger o pescoço.

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FUVEST

Em certo estado brasileiro, o governo estadual recepcionou festivamente em palácio e felicitou estudantes dali que foram aprovados no vestibular da Universidade de São Paulo (USP), que é instituição estadual, não federal. (Guardem esta informação.)

Enquanto isso, universidades (inclusive federais) de vários estados instituem normas para dificultar a aprovação de estudantes de outros estados em seus vestibulares.

Que desfaçatez!

Em meu curso eu tive colegas de vários estados. Lembro-me de um colega acriano que contou sua epopeia de uma semana de viagem de ônibus para fazer a habilitação e a matrícula.

Havia lá muitos alunos estrangeiros também. Conheci gente do Gabão, Angola, Costa do Marfim, Mauritânia, Paraguai, Peru, Rússia, China, Alemanha, Japão. Até uns ianques apareciam por lá às vezes — não sei por quê, já que eles se gabam de ter as melhores universidades do mundo. O que poderiam aprender lá, já que eles produzem “o conhecimento” e não têm mais onde enfiar seus prêmios Nobel? 🤔

Nunca soube que a instituição em que me formei rejeitasse alunos de onde quer que viessem.

Comprazo-me nisso.

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Pós-metáfora

Vivemos, sem dúvida, a era da pós-metáfora: tudo se lê e se interpreta literalmente, sem noção ou percepção de figuras de linguagem.

E, ao contrário do que pensa muita gente, isso é uma faca de dois gumes: longe de atingir ou beneficiar apenas os negacionistas de sempre, corta à direita e à esquerda.

A enunciação do discurso torna-se cada vez mais difícil, pois é preciso ter muito controle sobre o que se diz para não deixar espaço a interpretações enviesadas e indesejadas. Fica praticamente impossível evitar deturpações, cortes, adulterações, montagens.

Os tempos de hoje requerem muito mais objetividade. Tome-se cuidado, portanto, ao dizer que algo ou alguém precisa ser destruído.

Um time derrotado por 4×0 na final de um torneio de futebol foi destruído pelo oponente? O contexto esportivo permite dizer isso sem grandes problemas além da incitação da rivalidade entre clubes. Já em outros contextos…

O problema de falar dentro de uma bolha é que, muitas vezes, a bolha explode e o conteúdo dela vaza. Aquilo que dentro da bolha é bom e cheiroso, pode ser mostrado fora dela como horrível, podre, fétido, e quem vê isto não consegue entrever a realidade.

A boiada pode não saber para onde está indo, mas o boiadeiro sabe muito bem para onde a está conduzindo.

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Busologia #4

(Imagem: Internet.)

O ônibus intercâmpus da universidade permite, às vezes, ver tipos humanos um tanto (ou nem tanto) peculiares.
Hoje se sentou ao meu lado um cara muito magro; mas eu, que sou gordo, não ocupo o espaço que ele ocupava no banco. Espalhou-se por seu espaço e invadiu o meu. Inacreditável!
Não o recriminemos, porém.
O modo como escanchou em V as pernas permite supor que ele talvez tenha alguma condição anatômica congênita rara que o impede de fechá-las…
Cada um cuide de sua bagagem!