Boca-livre

(Foto: WordPress.)

Chega de fascismo alimentar!
Deixem o povo pôr catchup na pizza, quebrar o espaguete antes de pô-lo na panela, combinar sushi com feijoada, fazer temaki de queijo com goiabada e esfihas doces ou de mortadela, pôr pimenta no sorvete e mirtilo na cachaça.
Deixem as pessoas usar quaisquer ingredientes à vontade, alterando receitas seculares, combinando-as e criando outras.
Deixem o pessoal adubar o hot dog com milho, repolho e batata-palha, e deixem os gringos rechear o pão de queijo com molho barbecue.
Comida também é cultura, e cultura se transforma, se difunde, se imita, se transfere, se herda, se admira ou se repele, se perde e se (re)cria… Cultura não tem dono.
E, por favor, não me olhem torto quando me virem tomando açaí com granola e banana!

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Eu, glutão…

(Foto: WordPress.)

Nos últimos meses, todos os dias eu passei de ônibus em frente a um estabelecimento em cuja placa pequena, de vidro, com fundo transparente e letras escuras, eu lia a palavra italiana TRATTORIA.
Comecei a planejar uma visita ao lugar para conhecer o cardápio desse novo restaurante italiano.
Hoje, pela primeira vez, o ônibus parou, por um minuto, em frente ao estabelecimento, e pude ler a placa novamente, por mais tempo.
Mas nada de TRATTORIA: na placa está escrito TATTOARIA! Trata-se de um ateliê de tatuagem e “piercings”.
Em todo este tempo fui enganado por meus olhos e meus óculos… mas a culpa de tudo é de minha gula!

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Livrarias e acepipes

(Foto: WordPress.)

Meu sonho de consumo era ser como essas pessoas que viajam pelo mundo conhecendo livrarias. Ah, as livrarias de Buenos Aires! Ah, a Livraria Lello no Porto!
Certo jornalista brasileiro gaba-se de ter sua livraria favorita em Nova Iorque. Já certo escritor lusófono, ao ouvir o nome de um país ou cidade, lembra-se logo das livrarias que conhece lá…
Já eu conheço livrarias (na verdade, quase todas elas são “sebos”) apenas na cidade de São Paulo, além das ex-livrarias — ou seja, as que deixaram de existir — na cidade onde moro.
Mas, para compensar, tenho minha própria idiossincrasia: quando passo por um lugar que conheço ou me fazem alusão a ele, ou me lembro de uma data, logo me vêm à mente as comidas ou bebidas que saboreei ali ou naquele momento: sanduíche de pernil na Lanchonete Estadão; um pão doce gostoso numa padaria no Largo 13 de Maio, Santo Amaro; suco de uva passa num restaurante libanês; as batidas de um bar já extinto num bairro onde morei; os brigadeiros de uma cafeteria na Ana Rosa; a comida de um restaurante vegetariano no Itaim-Bibi; o primeiro tacacá que tomei (em 2009, na banca de Dona Fausta, em Santarém); o doce de jiló de Caldas Novas; o patê de sardinha, feito por minha sogra, que comi vendo o jogo Brasil vs. Chile da Copa do Mundo de 1998…
Minha esposa diz que tenho memória gastronômica.
Pois é… Cada um com seu super-poder!

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Salsa ou coentro?

Conheço pessoas que não gostam de coentro (Coriandrum sativum); alegam que o aroma e o sabor são fortes, não conseguem comê-lo. Essas pessoas usam salsa (Petroselinum crispum), e em sua cozinha não entra coentro, seja em folhas, seja em grão.
Por outro lado, conheço pessoas que não gostam de salsa; a alegação é a mesma: aroma e sabor fortes. São pessoas que usam coentro, e em cuja cozinha não entra salsa.
Ninguém aí está certo ou errado. Trata-se de opinião, gosto pessoal ou motivado por tradição. Da mesma forma, há quem goste de ambos os temperos — como eu —, e há quem não use nenhum dos dois, preferindo outras ervas.
Cada um usa o tempero de que gosta. “É tudo da lei” — como cantava Raul.
O que não se pode é a pessoa achar que somente os temperos de sua casa e a cozinha de sua região são legítimos e autênticos, menosprezando os dos outros lugares.
Se você pensa assim, é bom começar a procurar tratamento. Sugiro consultar um psicólogo. Mas talvez um antropólogo já ajude…

Santarém, Pará, 4 de setembro de 2022.

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Coriandro

Foto: WordPress.

Com base em certas coisas que li recentemente, já estou em contagem regressiva para que pessoas que não gostam de coentro (Coriandrum sativum) comecem a ser acusadas de certos preconceitos pesados.
Teríamos já em formação um identitarismo coriândrico ou coentrão? 🤔
O problema não está no que se publica, mas em como se interpreta… principalmente nos tempos de mentalidade anacrônica em que vivemos.
Seja como for, dessas acusações estou livre. Já metade de minha família…
Se você não gosta de coentro, seja qual for o motivo, sugiro que comece a rever seus conceitos. Pode ser uma opção para evitar o cancelamento…