Raimundo Correia, poeta e… juiz!

Pouca gente sabe que o grande poeta Raimundo Correia (1859-1911) foi também juiz.

O “causo” abaixo foi narrado por Medeiros e Albuquerque e recontado por Humberto de Campos. É um alento em época de desconfianças judiciais… 😉

ESCRÚPULO DE JUIZ

“Raimundo Correia era de um escrúpulo doentio ao lavrar as suas sentenças de juiz. Certa vez, foi ter-lhe às mãos um processo movido contra Medeiros e Albuquerque por um fornecedor que pretendia receber duas vezes uma conta de novecentos mil réis. Chamado à casa do poeta magistrado, Medeiros encontrou-o abatido, desolado.
– Sabes – comunicou-lhe Raimundo -, há nove noites não durmo por causa deste processo. Vou jurar suspeição.
– Mas, pelos autos, eu tenho ou não tenho razão?
– A conclusão que eu tiro – informou o autor do “Mal Secreto” – é que a razão está contigo. E aí é que está o meu escrúpulo.
– ?…
– Há nove noites eu pergunto a mim mesmo: mas eu acho que o Medeiros tem razão porque tem mesmo, ou é porque o Medeiros é meu amigo?
E passou adiante a papelada.”

(Humberto de Campos, O Brasil Anedótico – conforme Medeiros e Albuquerque, “Discurso na Academia Brasileira de Letras”)