Óinc! Óinc! Óinc!

(Foto: WordPress.)

Uma ex-patroa minha dizia que a classe dirigente tratava o povo brasileiro como porcos: quando a vara começava a grunhir, jogava-se para ela a lavagem, e a porcada comia, enchia o bucho e ficava quieta.

É evidente que as condições de vida da população brasileira melhoraram significativamente depois de 1988, mas não vejo perspectiva de que vão muito além disso: ao invés de reformas de base para transformar de vez e de fato a estrutura do País, acena-se ao povo com políticas paliativas que são apenas a velha lavagem com tempero diferente.

Rebanho suíno de barriga cheia e aconchegado ao chiqueiro, enquanto a oligarquia passa cada vez melhor.
Eis aí.

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Pelo amor da Deusa!

O prefeito de Irajá da Leblona, Papai Duarte, viralizou nas redes sociais ao reagir à postagem também viral de uma aluna sobre o material escolar deste ano.

Papai Duarte, que é torcedor fanático do CRI (Clube de Regatas Irajaense), agradeceu à aluna e lhe enviou saudações regatianas.

A pergunta que faço: por que diabos um prefeito precisa fazer referência a time de futebol numa comunicação? Será que todos os pirajaenses são regatianos? E mesmo que o sejam, cabe tal alusão na manifestação de um prefeito ou de qualquer político?

Só faltou dizer: “Que a Mãe Asserá a abençoe!”

Todos sabem que o culto de Asserá (deusa também conhecida como Astarte, Astarteia ou Asterote) é a religião que mais cresce no Brasil. Segundo os assessores de sua campanha de reeleição, Papai ganhou alguns votos com seu comunicado por causa da grande torcida regatiana, a segunda maior do estado, mas poderia ter ganho outros mais se tivesse citado a Deusa.

Ele promete que não cometerá esse erro de novo. Vale tudo para continuar ocupando o melhor emprego do Brasil — segundo palavras do próprio Papai Duarte…

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Arrebatamento

(Foto: WordPress.)

O melhor negócio no Brasil de hoje é abrir uma igreja, pois a isenção de tributos para as instituições religiosas só se amplia. Chegará o momento em que trabalharemos apenas para cobrir o rombo do orçamento nacional causado pela isenção de impostos das igrejas.
Isto parece inevitável.
E espero sinceramente que ocorra mesmo esse tal arrebatamento que os evangélicos estão esperando.
Será muito triste se, depois de uma vida inteira de oração, obedecendo ao pastor, lendo (somente) a Bíblia ( 🤔 ), privando-se de prazeres e pagando dízimo, os fiéis acabarem indo parar no mesmo lugar destinado às prostitutas, maconheiros, cachaceiros, LGBTs, jogadores de carteado e dominó, macumbeiros, leitores de Sade, fãs do Chico Buarque, padres, comunistas, professores, pornófilos, políticos, sibaritas, edonistas e outras figuras que os crentes julgam estar condenadas ao inferno…
Quem viver, verá.

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Barba, cabelo e bigode

(Créditos da imagem: Robbie Coltrane no papel de Hagrid, Warner Bros Pictures/Harry Potter.)

Certo biólogo diz que jamais cortará os cabelos nem tirará a barba porque “cabelos cortados e barba raspada deixam o homem com cara de coxinha”. Já outra intelectual, esta das humanidades, alude de forma jocosa a evento oficial do atual governo com a presença de “mauricinhos com cabelo penteado sem um fio fora do lugar”.

Hmmmm…

Parece que é assim que alguns pensam que convencerão os adversários políticos para diminuir a polarização que, dizem eles, assola o País. Vejam como vai dando certo…

Sempre me considerei de centro-esquerda. Mas, a julgar pela avaliação que se faz de gente com minha aparência, creio que os fenotipistas políticos me poriam ao lado dos camisas negras ou verdes dos anos 1930. Argh!

(E o horroroso Plínio Salgado tinha até bigode…)

Lembro-me de ter visto um documentário em que um dos entrevistados, italiano adepto da contracultura dos anos 1960, conta sua viagem com alguns “compagnons de route” à Albânia para conhecer o socialismo real. Assim que passaram pelo posto de guarda, os admiradores do regime de Enver Hoxha foram obrigados a cortar os cabelos e raspar a barba, pois, conforme a ideologia em vigor na Albânia de então, cabelos compridos e barba eram coisa de burguês.

E os pobres coitados achando que seus cabelos longos e ideias curtas estremeciam as bases do capitalismo!

Enquanto alguns pensam que podem mudar o mundo deixando a barba crescer e aposentando o pente, a extrema direita se recupera e afia a navalha para fazer serviço completo.

Deixemos de perder tempo com barba, cabelo e bigode e cuidemos de proteger o pescoço.

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Ah, a riqueza da periferia…

Já decidi: na minha próxima encarnação quero nascer RICO! (RICA também serve. Ou RIQUE.) Não quero, porém, nascer rico nos EUA, Reino Unido, França, Alemanha, Áustria, Japão, Coreia do Sul, Canadá, Suécia… Não! Nada disso! Quero nascer rico no Brasil. É muito melhor.

Mas também não quero nascer numa família rica de São Paulo, Rio de Janeiro, Distrito Federal… Os ricos desses lugares têm muitas preocupações e chateações: são o tempo todo chamados a responder sobre a responsabilidade social de sua riqueza, precisam expor suas medidas de ESG (está na moda), todo o País tem os olhos votados para eles. São os que mais aparecem nas colunas sociais e políticas. A vida deles é muito estressante. Sem falar no fato de que a burguesia dos grandes centros brasileiros recebe a culpa de todas as mazelas nacionais, mesmo daquelas das quais ela não tem culpa nenhuma.

Quero nascer rico num estado periférico e “pobre” do Brasil. Não citarei nomes, mas todos sabem quais são eles. É muito mais agradável e bem menos complicado ser rico nesses lugares.

Imaginem só: além de todas as benesses da riqueza e do poder, inclusive o acesso aos melhores cargos, eletivos ou não, os ricos e poderosos dos estados “pobres” não precisam preocupar-se com tomar decisões de impacto nacional, além de que sempre podem pôr a culpa da miséria, do atraso e do subdesenvolvimento local na ingerência do Governo Federal e na exploração por parte da burguesia de São Paulo, Rio de Janeiro, Distrito Federal… e até dos falidos Rio Grande do Sul e Minas Gerais. Coitado do Espírito Santo, que por ser do Sudeste é levado de roldão também.

Não importa se as famílias ricas desses lugares “pobres” se alternam, há várias gerações, no governo das “províncias”; nunca é delas a culpa do péssimo transporte coletivo, da saúde precária e do esgoto que corre a céu aberto pelas ruas, lançado de casas ricas ou pobres. E, sempre que é convocado, o nacionalismo regional, também conhecido como bairrismo, garante o apoio do povão local à sua classe dirigente contra os exploradores de fora, de modo que qualquer favelado de São Paulo ou Rio de Janeiro se torna coopressor do resto do Brasil.

Por isso já decidi. Anote aí, produção: na próxima encarnação quero nascer na família Barulho, ou Sou Rei, ou Raposão, Já Esteve, Cheiros, Cavalo Canta, Tua Prima, Mexilhões, Viola, Nojeira, Matinho, Vintém, Cágado, Comes, Tu Que Sabes, Palheiros, Mamais, Obscena, Camarão, Vitela, Borrega, Farinha, Deslumbre… São muitas as opções, e deixo à produção a escolha. Não tenho objeção a nenhum estado. Seja qual for, será uma delícia.

Nada como nascer já destinado a ser governador, senador, deputado ou, no mínimo, prefeito de uma capital, ainda que seja num rincão distante do Brasil…

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FUVEST

Em certo estado brasileiro, o governo estadual recepcionou festivamente em palácio e felicitou estudantes dali que foram aprovados no vestibular da Universidade de São Paulo (USP), que é instituição estadual, não federal. (Guardem esta informação.)

Enquanto isso, universidades (inclusive federais) de vários estados instituem normas para dificultar a aprovação de estudantes de outros estados em seus vestibulares.

Que desfaçatez!

Em meu curso eu tive colegas de vários estados. Lembro-me de um colega acriano que contou sua epopeia de uma semana de viagem de ônibus para fazer a habilitação e a matrícula.

Havia lá muitos alunos estrangeiros também. Conheci gente do Gabão, Angola, Costa do Marfim, Mauritânia, Paraguai, Peru, Rússia, China, Alemanha, Japão. Até uns ianques apareciam por lá às vezes — não sei por quê, já que eles se gabam de ter as melhores universidades do mundo. O que poderiam aprender lá, já que eles produzem “o conhecimento” e não têm mais onde enfiar seus prêmios Nobel? 🤔

Nunca soube que a instituição em que me formei rejeitasse alunos de onde quer que viessem.

Comprazo-me nisso.

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