A muralha

(Foto: WordPress.)

Numa realidade alternativa, a cidade de Jericó, capital de um pequeno estado cananeu, resistiu bravamente ao cerco a que foi submetida por um povo invasor vindo do deserto.
As trombetas do inimigo troaram ensurdecedoramente; o esturro dos cães de guerra gelou o sangue da população sitiada; uma magia desconhecida pareceu tornar o dia em noite e a noite em dia… mas suas muralhas não ruíram. Jericó não caiu.
Milênios após esses eventos, arqueólogos e historiadores chegaram a consenso em pelo menos uma coisa: os restos encontrados naquele sítio arqueológico demonstram que houve ali uma batalha longa, feroz, encarniçada, em que os jericoenses venceram um invasor cuja identidade até hoje é desconhecida.

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Todo mundo odeia o Chris…

(Foto: WordPress.)

Só um tapinha não dói… Ai! Dói, sim!
Numa realidade alternativa, durante a cerimônia do Oscar de 2022, quem deu um tapa em Chris Rock foi Tom Hanks, que não gostou nadinha da piada que Rock fez sobre a atriz Rita Wilson, esposa de Hanks.
Imaginem só: um branco dando um tapa na cara de um negro em pleno palco do Oscar. Inaceitável! Um absurdo!
Aí sim a repercussão do tabefe mais famoso da história da Academia de Cinema de Hollywood seria da pesada! E, naquela realidade alternativa, foi mesmo…

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Reconquista futebolística

(Imagem: Wikipédia.)

Numa realidade alternativa*, a reconquista cristã da península Ibérica jamais ocorreu.
Após a invasão muçulmana de 711 da Era Comum**, comandada por Tárique, cujas tropas atravessaram as Colunas de Hércules e mudaram o curso da história, diversos impérios muçulmanos, sediados na própria península ou fora dela, alternaram-se no domínio da Ibéria e de outras partes da Europa até meados do século XX (fins do século XIII da Hégira), quando se iniciou o processo de descolonização de Al-Ândalus e outras terras que, depois de mais de 12 séculos de colonização e domínio islâmico, voltaram a ser governadas pelos próprios infiéis, para desgosto dos crentes.
Surgiram diversas monarquias e repúblicas, cujas populações, de forma espantosa, tinham permanecido predominante e culturalmente cristãs e falantes de línguas românicas, celtas, germânicas ou bascas: Galiza, Aragão, Algarve, Leão, Castela, Astúrias, Occitânia, Aquitânia, Vascônia, Francônia, Barcelônia, Provença…
A coragem e determinação desses povos na resistência política e pela manutenção de sua cultura, em face de dominadores tão poderosos e sofisticados, é até hoje exemplar e inspiradora para muita gente, não somente no campo político.
Na Copa do Mundo de 2022, realizada na Irlanda (a primeira num país cristão), a sensação foi a seleção do Algarve, que eliminou as seleções do bicampeão mundial Egito e do Marrocos, três vezes campeão mundial.
Metade dos jogadores do Algarve naquele campeonato tinha nascido fora do país: eram filhos de imigrantes algarvianos estabelecidos em ricas ex-metrópoles — na Otomânia, no Irã, no Egito, na Grã-Mugália ou no Magrebe — que escolheram defender a seleção do país de seus pais, para alegria e delírio da galera decolonial.
“Viva a alegre seleção do Algarve, civilização ibérica invadida pelo Magrebe, que derrotou Egito e Marrocos!”; “O castigo para os árabe-islâmicos tarda mas não falha!”; “Alá é grande, mas Deus é algarbiense!”; “Al-Maraduna*** virou Al-Mara-Nada!” — estes e outros ditos de triunfo semelhantes circularam muito por aqueles dias de euforia, quando o selecionado de um humilde e pequeno país ibérico humilhou as potências políticas e econômicas nos campos da Irlanda, redimindo e alegrando os povos oprimidos e os trabalhadores imigrantes — pelo menos enquanto durou a cerveja****…

* Isto é um exercício livre de ficção alternativa contrafactual. É tudo invenção. Entrem no espírito da coisa, por favor. Não me levem a sério. 😉
** Algumas pessoas parecem achar que antes de 711 não existiam populações humanas na península Ibérica. Só isso explica certas besteiras que se leem por aí na rede. Ou é ignorância ou má-fé.
*** O egípcio Al-Maraduna, nessa realidade alternativa, foi um dos maiores jogadores do mundo, tendo capitaneado sua seleção na conquista do bicampeonato mundial em 1986, na copa realizada em Sumatra.
**** Contrariando decisão da FIFA, presidida por um ex-árbitro de Timbuctu, o rei irlandês João IV O’Brien liberou a cerveja nos estádios.

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Péssima arbitragem

(Imagem: WordPress.)

Numa realidade alternativa, a China não foi “boazinha”, como se diz por aqui, e decidiu expandir-se: conquistou grande parte do mundo e espalhou por todos os continentes sua língua, cultura e instituições, entre elas a prática do futebol, de cuja invenção os chineses se gabam. (Há 2 mil anos, um esporte semelhante ao futebol era parte do treinamento militar das tropas imperiais.)
Mas logo os chineses perderam a primazia no esporte que criaram, pois só conquistaram a Copa do Mundo uma vez, em 1966, quando a sediaram.
Na final, ocorrida em Pequim, a China venceu o Japão por 3×2, e a imperatriz chinesa entregou a taça ao capitão da equipe imperial, Wang Lipei, que a recebeu com a empáfia de costume.
Até hoje, porém, nessa outra realidade, os japoneses reclamam da péssima atuação do trio de arbitragem cambojano, pois alegam que o terceiro gol chinês teria sido marcado em impedimento, além de terem sido anulados dois gols legítimos do artilheiro japonês Akira Yamashita.
Alternam-se as realidades, dando-se liberdade à imaginação, mas o futebol permanece o mesmo. Ou não?

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