Coroas na moita

Enquanto parte da humanidade se solidariza com os britânicos devido ao falecimento da rainha Isabel/Elizabeth II, e o restante do mundo festeja a morte de um símbolo do imperialismo, colonialismo e monarquia, as casas reais das demais monarquias europeias…
Mas… espere aí, Julião! Que negócio é esse de “demais monarquias europeias”?
Bom, o fato é que a maioria das pessoas não sabe que Bélgica, Dinamarca, Espanha, Holanda, Liechtenstein, Luxemburgo, Mônaco, Noruega e Suécia também são monarquias constitucionais, democráticas e parlamentares. (Não cito aqui as petromonarquias do Golfo Pérsico nem as do Sudeste Asiático, por motivos óbvios… O Japão é exceção: única monarquia democrática fora da Europa.)
Essas monarquias respiram aliviadas pelo monopólio que a monarquia britânica tem na mídia, chamando para si toda a atenção e deixando-as na maior tranquilidade, na moita, na miúda, na encolha, sem que seus escândalos e fofocas frequentem por muito tempo as páginas de jornais e da Internet.
Essa tranquilidade só é quebrada quando algum jornalista se lembra de que a rainha consorte Sílvia da Suécia nasceu no Brasil, ou de que a rainha consorte Máxima da Holanda é argentina — o que gera uma reportagem, principalmente na imprensa brasileira, para encher linguiça quando não há nada para reportar sobre a nobreza coroada favorita do Mundo Livre.
Por isso, esses príncipes e reis europeus certamente acompanham com atenção o que seu primo Carlos/Charles III do Reino Unido da Grã-Bretanha e da Irlanda do Norte fará doravante. Um deslize de Carlinhos pode fazer balançar a coroa em sua cabeça inexperiente em reinar, mas já idosa, e qualquer estremecimento da monarquia britânica poderá gerar um efeito dominó nas demais monarquias européias — o que fará as delícias dos republicanistas de plantão.

Eixo do Mal

Tive um sonho (ou pesadelo) muito estranho, que me deixou pensativo.
Sonhei que eu estava deitado numa rede, e por um rádio velho eu ouvia as últimas notícias sobre a Segunda Guerra Mundial.
Estávamos em plena guerra, e o rádio trazia informes sobre o avanço das tropas, territórios tomados e perdidos, mortos e feridos, navios afundados e submarinos extraviados, bombardeios, aviões abatidos…
E o Brasil não era mero figurante: tínhamos entrado para valer na guerra e estávamos metidos nela até o pescoço. O conflito havia chegado à América do Sul; nossas tropas lutavam dos dois lados do Atlântico e até no Pacífico. Toda a nação estava envolvida no esforço de guerra. Vivíamos sob estado de sítio.
De repente, a programação do rádio foi interrompida para o pronunciamento de Sua Majestade Imperial! 😱
O Brasil ainda era monarquia, e o monarca de plantão era o imperador Pedro III.
Mas isso não era o pior: adivinhem em qual dos lados da guerra o Brasil estava…

Monarquia à brasileira

640px-Flag_of_Empire_of_Brazil_(1870-1889).svgAssistindo a um filme sobre a monarquia britânica, convenci-me de que devemos ser muito gratos a Deodoro da Fonseca, Quintino Bocaiuva, Benjamin Constant e os demais que, em 15 de novembro de 1889, com um golpe de estado derrubaram o Império Brasileiro e nos deram a República dos Estados Unidos do Brasil.

O motivo?

Os Próceres da República pouparam-nos da vergonha de ser a monarquia mais ridícula do mundo!

Duvidam disso?

Já imaginaram como seria se, além das presepadas diárias de nossos políticos, ainda tivéssemos de aturar os escândalos de nossa casa real e sua farândola de nobres parasitas e perdulários?

De manhã, veríamos no sisudo jornal A Província de S. Paulo que, na noite anterior, o duque das Neves Gerais, acompanhado de uma beldade da família real da Frísia ou do Irã, fora pego dirigindo bêbedo seu veículo automóvel da marca Jaguar e se recusara a fazer teste de bafômetro – pois aos nobres esse exame não é obrigatório.

Depois leríamos na Carta Imperial que o barão das Cunhas é acusado de ter dinheiro ilegal em suas contas na Suíça.

Já o marquês das Alagoas de Renânia tenta escapar de mais um processo no Senado do Império, enquanto Dom Santana, gentil-homem da Bahia, é preso para explicar a campanha de reeleição da primeira-ministra, sob investigação.

Tudo isso mostrado com os habituais cortes e retoques no Jornal Imperial da TV Orbe do jornalista Dom Robert Marinus…

Sim, escapamos de ser a monarquia mais ridícula do mundo; mas entre as republiquetas ainda temos bastante concorrência!

Santarém, PA, 1º/3/2016.