Há vários anos, um amigo meu, professor universitário de geografia, teve a ideia de visitar alguns dos países vizinhos do Brasil como complemento de suas aulas. Reuniu alguns alunos que podiam acompanhá-lo durante o período de férias escolares e fez o planejamento necessário para uma viagem econômica – ou seja, no estilo mochileiro.
O primeiro país a ser visitado foi o Paraguai.
Não, eles não foram a Ciudad del Este e Pedro Juan Caballero para as famosas compras de bugigangas “importadas”. Nada de muamba. Passaram direto por ali e se dirigiram a um departamento distante (chamam-se departamentos as divisões administrativas paraguaias).
Professor e alunos queriam conhecer o Paraguai profundo, rural, com o intuito de fugir aos estereótipos e ter contato mais direto com a população “autêntica”. Queriam conhecer o meio rural do país vizinho e compará-lo com o equivalente no Brasil.
Visitaram comunidades rurais, igrejas, escolas; participaram até de um programa de rádio numa das cidadezinhas em que estiveram.
Numa dessas localidades, ficaram hospedados num alojamento paroquial, junto com seminaristas e padres. Antes de partir de volta ao Brasil, e para agradecer aos responsáveis pelo local a acolhida que ele e seus alunos tiveram, o professor quis fazer-lhes uma surpresa: iria preparar um doce, uma deliciosa sobremesa brasileira.
Que doce era esse? Segredo! Eles só saberiam na hora em que fosse servido.
O chef foi para a cozinha. Depois de certo tempo lá vinha ele, com uma enorme travessa de arroz-doce.
“¡Qué maravilla! ¡Arroz com leche!” – exclamaram os convivas locais, diante do espanto dos estrangeiros.
Não é preciso dizer que todos se deliciaram, mesmo porque a sobremesa misteriosa já era conhecida no país vizinho… com outro nome!
Santarém, PA, 20/6/2016.